Fernando Luís: na Serra da Arrábida com a Decenio

Nasceu em Setúbal e foi nesta cidade que começou a dar os primeiros passos como ator, no Teatro de Animação de Setúbal, apesar de nunca ter pensado seguir esta profissão. Nas últimas duas décadas e meia representou em alguns dos grandes palcos do teatro nacional, como é o caso do Teatro D. Maria II, do Teatro Maria Matos e do Teatro da Cornucópia, tendo sido dirigido por nomes como João Canijo, Diogo Infante, Fernando Gomes, João Brites, Filipe La Féria, Carlos Avilez e Graça Correia, entre outros. Consciente de que a sua paixão é o palco, reconhece que sente uma atração especial pelo cinema e um grande respeito pela televisão, pois foi com este meio que a fama chegou. Conversámos com o ator na Serra da Arrábida, tendo como cenário o mar e a Praia do Portinho, para ficarmos a conhecer o ator que dá corpo ao mais conhecido inspetor da televisão, Jorge Mendes, de regresso após um interregno de dez anos.

A vida de ator era uma certeza quando era adolescente?

Não. Na verdade nunca pensei em ter esta carreira. Fui experimentando, fui sendo convidado para fazer alguns papéis, até que me apercebi que era um caminho que me estava a interessar mais do que alguma vez tinha pensado.

A pergunta que todos os jornalistas lhe devem fazer: teatro, televisão ou cinema?

O teatro é, sem dúvida, o lugar onde me sinto mais vivo e completo, foi por esse motivo que me tornei ator. Quando estou no palco sinto-me preenchido. No entanto, a descoberta de novas formas de representar levou-me ao cinema e à televisão. Acima de tudo, todas estas áreas têm a faculdade de me complementar e penso que é extensivo a todos os atores, mais consagrados ou menos consagrados, dentro e fora de Portugal.

O teatro representa diferentes atitudes face à representação?

O teatro tem a particularidade de interagir diretamente com o público. A relação que se cria entre o ator e o espetador é imediata, percebemos se está a gostar ou não.

E quando se sente que o público está a reagir de forma contrária ao esperado, qual a solução por parte de quem está no palco?

Varia. Imaginemos que estou a fazer uma peça de comédia, existe a preocupação de tentar perceber o que leva quem assiste a não reagir conforme o idealizado. Obviamente que não se vai mudar a peça ou os diálogos, pelo menos no momento, no entanto, há que pensar e repensar para perceber o que não está a resultar e trabalhar para encontrar a receita certa ou a mais adequada.

Em que medida representar os autores clássicos enaltece, ou não, a carreira de um ator?

Trabalhar textos clássicos, como Shakespeare, Brecht ou O’Neill, é muito importante para podermos perceber dinâmicas distintas da interpretação e da própria representação. Todos os atores o devem fazer, mas muito importante também é perceber o que aqueles autores e os seus textos representavam no seu contexto temporal e ajustá-los aos dias de hoje. Grande parte dos autores clássicos são absolutamente contemporâneos, atuais e o exercício da interpretação passa, no meu ponto de vista, por contextualizar e tornar os textos ajustados ao tempo em que vivemos, sem nunca, e friso, nunca, ignorar os originais.

A televisão trouxe-lhe o reconhecimento popular através de séries como “Médico de Família”, “A Minha Família é uma Animação” ou “Inspetor Max”. O que mudou na sua vida?

Tive de me adaptar. Deixei de ser uma pessoa anónima ou menos conhecida. Ser ator de teatro ou de cinema não causa, ou não tinha causado até então, tanto mediatismo. Passamos a fazer parte de todas as famílias portuguesas. Aprendi a ajustar-me e a respeitar quando era abordado na rua, restaurantes, cinema ou outros locais por onde circulo.

Cerca de dez anos depois o “Inspetor Max” está de regresso. Sempre teve a expetativa de regressar a esta personagem?

A TVI sempre teve a intenção de gravar mais temporadas, durante alguns anos o projecto esteve em stand-by até final do ano passado, quando informou que iríamos retomar este programa.

Apesar de o elenco base ser o mesmo, há muitas caras novas?

Sim. Eu, o Ruy de Carvalho e o Rui Santos mantemo-nos nesta nova temporada, que conta com novos rostos como é o caso da Madalena Brandão, José Carlos Pereira, André Carvalho, Rita Salema, Maura Faial, Gabriela Barros, Issac Alfaiate, Vera Pimentel e Mariana Marques Guedes.

A sua personagem no “Inspetor Max” tem uma relação muito próxima com um cão. Gosta de animais?

Adoro cães e já tive um. Mas a minha vida tem horários muito incertos, pouco conciliáveis com a qualidade de vida que se deve dar a um animal. Quando tinha o meu cão cheguei a levá-lo para os ensaios e gravações, só que o resultado não foi o melhor e por isso optei por não ter animais de estimação. Quem sabe um dia!

E de moda, gosta?

Gosto, mas não sou um fiel seguidor. Tenho noção do que se passa dentro e fora de Portugal, no entanto, sou desligado de uma maneira geral.

Preocupa-se com a sua imagem?

Pouco.

Mas tem um estilo definido?

Procuro ter um estilo que respeite o meu conforto. Gosto de roupa e de acessórios que me permitem estar bem, prático. Quando é necessário claro que me visto mediante a ocasião.

Veste marcas nacionais?

Visto e calço. Tento estar atento, pois sei que são boas.

 

 

Entrevista gentilmente cedida pelo Jornal Decenio.

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